Sunday, April 02, 2006

CPI para investigar propina para apurar as denúncias contra o presidente da Casa, pastor Vagno Pinheiro da Silva



CPI para investigar propina

Matheus Machado
Correio Braziliense
7/7/2004

CORRUPÇÃO
Comissão Parlamentar de Inquérito é instalada para apurar denúncias contra presidente da Câmara Municipal de Valparaíso, o pastor Vagno Pinheiro da Silva (PL). Ele foi flagrado cobrando dinheiro de prefeito

A Câmara Municipal de Valparaíso de Goiás instaurou ontem Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias contra o presidente da Casa, pastor Vagno Pinheiro da Silva (PL). Ele foi preso em flagrante na última segunda-feira, depois de ter sido flagrado cobrando propina do prefeito da cidade, Juarez Sarmento (PSDB).

De acordo com o prefeito, as extorsões começaram há quase um mês. O presidente da Câmara, que é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, o procurou e disse que só iria votar em plenário os projetos de interesse da prefeitura se recebesse R$ 20 mil. O dinheiro seria dividido em duas parcelas. A primeira foi paga no dia 22 de junho. De acordo com Juarez Sarmento, naquele dia, ele tentou gravar as imagens da extorsão, mas não conseguiu câmeras de vídeo para flagrar o encontro.

‘‘Pedi emprestado a filmadora para um amigo. Ele ficou de arrumar mas, minutos antes do encontro, não conseguiu e não pude voltar atrás’’, disse o prefeito. O pagamento foi feito: R$ 9,5 mil. A partir daí, o pastor Vagno começou a ligar todos os dias para Sarmento. Queria a segunda parcela do pagamento. ‘‘Tive que enrolar ele por muito tempo, até conseguir as câmeras.’’

Na segunda-feira, o prefeito conseguiu duas câmeras de vídeo. Marcou o encontro com o vereador e comunicou o fato para o delegado adjunto da 1ª Delegacia de Valparaíso de Goiás, Leandro de Castro Folly. O policial foi até a casa do prefeito — localizada no bairro da Esplanada II — com três agentes de polícia para armar o flagrante.

Por volta das 17h, o vereador chegou na residência de Juarez Sarmento. Os policiais ficaram dentro da casa. Um dos agentes se posicionou na janela e gravou as imagens. O filho do prefeito se escondeu dentro da caçamba de uma caminhonete e com outra câmera gravou o áudio das conversas.

Imagens
As imagens foram registradas no quintal da casa. O prefeito disse que não tinha todo o dinheiro. ‘‘Consegui R$ 3 mil. Entreguei para ele, mas o pastor pediu para eu preencher um cheque de R$ 7 mil para completar o pagamento’’, disse Sarmento. As imagens mostram o momento em que os R$ 3 mil são entregues. O prefeito conta o dinheiro antes de passar para Vagno, que recebe o pagamento e coloca o bolo de notas no bolso. Durante o encontro, o presidente da Câmara Municipal pediu ainda R$ 1 mil para cada sessão extraordinária a ser marcada.

A entrega do dinheiro foi a prova final do flagrante. ‘‘Um dos agentes que estava no primeiro andar me avisou quando o prefeito passou o dinheiro para o vereador. Aí eu saí da casa e dei voz de
prisão no acusado’’, disse o delegado Leandro de Castro.

Em depoimento à polícia, o pastor Vagno disse que foi vítima de uma armação e que o dinheiro pago fazia parte de um ágio da venda de um carro. ‘‘Ele tentou argumentar, mas contra as provas não há o que dizer nem se defender. Por isso ele foi autuado’’, explicou o delegado. O presidente da Câmara foi acusado de corrupção passiva e pode pegar pena que varia de um a oito anos de prisão.

Na Câmara Municipal, o clima ontem era de tensão. O presidente da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, vereador Willian Barreiros (PRP) decidiu levar à sessão requerimento para a imediata instauração de uma CPI. ‘‘Não podemos deixar um ato como esse acabar com a imagem da Casa. Por isso defendo uma solução urgente nesse caso’’, comentou.

No início da noite de ontem, os vereadores confirmaram a instauração da CPI. Três pessoas vão compor a comissão. Os nomes serão definidos hoje, mas, segundo apurou o Correio, o presidente da Comissão de Ética deverá presidir as investigações. A vereadora Tia Creusa (PFL) está cotada como vice e Joaquim do Monte (PCdoB) deverá assumir a relatoria do caso.

Diante das denúncias, a direção do Partido Liberal decidiu afastar por tempo indeterminado o presidente da Câmara Municipal da legenda. De acordo com o presidente do PL em Goiás, José Carlos Júnior, o vereador terá até cinco dias para apresentar a defesa. Depois disso, a direção vai analisá-la e decidirá sobre o futuro político do pastor Vagno.

Segundo José Carlos, três coisas podem acontecer: a primeira e mais provável, segundo ele, seria a cassação do registro de candidatura do vereador — se isso acontecer, o pastor Vagno ficará impedido de disputar eleições por um período de oito anos. A segunda seria a expulsão em definitivo do partido e, por fim, a absolvição. ‘‘Eu acho difícil que isso aconteça’’, disse Júnior.

Petista nega acusações

Durante o flagrante, o presidente da Câmara Municipal, pastor Vagno Pinheiro da Silva (PL), diz para o prefeito Sarmento Juarez (PSDB) que o restante do pagamento poderia ser feito ‘‘pessoalmente para ele’’. A terceira pessoa citada nas conversas, segundo o depoimento do prefeito à Polícia Civil, é o vice-presidente da Casa, o vereador Arquicelso Bites Leite (PT). Além de ser vice-presidente da Câmara, Bites também é o corregedor, líder do PT e o relator da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O petista afirma não ter conhecimento das extorsões. ‘‘É muito fácil dizer que estou nisso. Tudo passa por mim. Vou amanhã (hoje) na delegacia para explicar que eu não participei das extorsões’’, disse. (MM)




Data : Terça-feira 06 Julho 2004 - DFTV 1ª Edição



Reportagem




Vereador é preso

Fernando Freire / Hosana Seiffert





Pastor Wagno
O flagrante é do momento em que o presidente da Câmara de Vereadores de Valparaíso, pastor Wagno, do PL, pega o dinheiro. Esta seria a segunda parcela dos R$ 20 mil exigidos para garantir a votação de um projeto sobre previdência municipal. O prefeito, Juarez Sarmento, que montou o flagrante, diz que só conseguiu três mil reais:
Prefeito - “Não tenho todo o dinheiro”.
Vereador - “Mete um cheque então! Eu dou a parte dele em cheque.”

O pastor Wagno conta o dinheiro e cobra mais por uma sessão extraordinária da Câmara:
Vereador - “Ficou só pendente aqueles dez, né! Isso e mais aquela extraordinária.”
Prefeito - “Quanto é a extraordinária?”
Vereador – “Foi mil. Você prometeu naquele dia, por telefone.”

Apesar da gravação, ao ser preso, Wagno nega o crime: "Ingenuamente, eu fui à casa do prefeito. Foi ele quem me chamou para falar sobre o andamento dos projetos. De repente, ele tirou R$ 3 mil do carro e me entregou. Imediatamente eu disse: ‘Não quero seu dinheiro!’", conta o vereador.

Para a polícia, durante a gravação do flagrante, ficou comprovada a tentativa de extorsão e a participação de uma segunda pessoa no esquema.
Prefeito - “Você vai dar pra ele ou daqui há pouco ele vem de novo em mim?”
Vereador - “Se você quiser, você mesmo pode dar pra ele. Ele não pode falar isso, pô! Se eu tô dando pra quem é miserável...”
Prefeito - “Pois é, mas ele já fala que não dá.”
Vereador – “Mentira! Rapaz, eu entreguei pra ele dentro da casa dele. Na casa dele não, no meu estacionamento.”

A investigação agora recai sobre o vice-presidente da Câmara, vereador Arquicelso Leite, do PT. Ele nega. “Eu não entendo, não tenho a menor noção de onde possa vir isso. Estou à disposição do delegado que está investigando o caso e dos colegas vereadores. Não tenho a menor noção de onde possam ter vindo essas informações”, afirma.

O pastor Wagno Pinheiro da Silva está no primeiro mandato como vereador e foi reeleito como presidente da Câmara Municipal. O presidente do PL de Valparaíso, José Carlos Moraes Nunes, pediu, no fim de junho, o afastamento do vereador do partido por suspeita de corrupção.

Na Câmara de Vereadores, governo e oposição defendem a apuração do caso. “Nós vamos abrir uma sindicância para analisar o fato. Vamos pedir cópia das fitas veiculadas e, depois, uma vez comprovada a participação, abriremos uma Comissão Parlamentar de Inquérito”, explica Jedison Januário, vereador do PSC.


Imagens: Manoel Lenaldo

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